segunda-feira, 2 de maio de 2016

Participação da equipa (Castelo de Vide)

Representação a cargo de:
90km - João Valério

Foi a minha primeira participação na Maratona de Castelo de Vide e fui logo para a distância longa (90km), na continuação do meu treino para a travessia da Escócia. Cheguei cedo mas não me safei da enorme fila para levantar o dorsal no secretariado, estrategicamente localizado no coreto do jardim principal da bonita Vila Alentejana. 

 A lista de inscritos/participantes para a Maratona reduzia-se a 80 bravos, para atacar um percurso que se previa duro e estranho, uma vez que praticamente todo o acumulado de subida se concentrava nos primeiros 10km e nos últimos 20km.

Os participantes na distância maior perfilavam na primeira manga! Na frente só se viam cavalões. Pudera! Haviam prémios monetários (120€ para o primeiro a cruzar a meta) e tratava-se da 2.ª prova para o Troféu de Maratonas da Beira Interior 2016. O meu objetivo era terminar sem ficar em último.   

Atrás de mim, na 2.ª manga, alinhavam-se os quase 200 participantes na Meia Maratona. Todos juntos fazíamos um quadro lindíssimo de cores multiplas no Parque João José da Luz.


Depois de muitos dias e semanas de chuva, tivemos a oportunidade de um maravilhoso dia de sol para nos fazermos aos trilhos! As partidas para ambas as distâncias tiveram um intervalo de 10 minutos, o que me facilitou desde logo a tarefa para me orientar entre os participantes da minha distância. 


Após uma partida bastante rápida foi vê-los a desaparecer à minha frente: fiquei desde logo em último do pelotão quando me distraí com o teimoso do gps que não queria deixar pôr-se a zeros. Pela frente tínhamos, para já, 10km de dureza absoluta. Começámos por um par de quilómetros em asfalto para depois cerrar os dentes e nos fazermos à calçada romana de inclinação acentuada, ora pedra, ora rocha, ora terra, subindo, subindo, subindo, descendo com muita técnica envolvida e voltando a subir... quase até ao céu.


A cerca de 5km do início já me encontrava sozinho. Atrás de mim vinham 4 atletas, à minha frente todos os outros. Não estava mau de todo. Estes quilómetros iniciais para aquecer só me fez foi bem.


Depois das 2 enormes subidas iniciais fizemos-nos à descida, a exigir kit de unhas e loucura qb! Entretanto já havia subido mais alguns lugares na tabela, porque a descer doideira é comigo, e então com a minha companheira Cannondale F29 que nunca se nega a nada.



Levei comigo uma cábula colada no quadro da bike onde imprimi o gráfico altimétrico, os quilómetros onde se localizavam as zonas de abastecimentos e também os tempos de passagem mínimos permitidos a cada 10km para evitar sermos retirados de prova, onde ao km10 passei a queimar, aos 50 minutos de prova.

A nível de marcações estiveram a bom nível, com boa altura do chão e devidamente distanciadas. As fitas eram facilmente visíveis. Só tive dificuldade nalgumas cortadas, em especial em zonas comuns a ambas as distâncias. 


Desta vez não me contive e após uma ultrapassagem, num cotovelo à esquerda em plena calçada romana desequilibrei-me com a inclinação e não consegui desencaixar o pé direito a tempo, vai daí, queda com mortal encarpado na pedras macias e por último ainda levei com a enfurecida Cannondale em cima. Se já andava com problemas no tendão do pé direito, ainda fiquei pior. Tudo parecia estar em condições para que pudesse continuar. Uns arranhões e uns sinais de sangue, dores no corpo e no orgulho! O jovem camarada que seguia logo atrás de mim ofereceu auxílio, que declinei, pois o meu objetivo era não o deixar fugir da vista, até porque uns metros abaixo já se via e ouvia um fotógrafo. Tinha de fazer boa figura!  

Seguiram-se muitas dezenas de quilómetros de retões, com inúmeras passagens por dentro de ribeiras. Cheguei a rolar na casa dos 42km/h e a minha média subiu dos 12km/h para os 21km/h. Subi também mais uns quantos lugares na classificação, devido ao ritmo mas também devido a algumas desistências com que me fui deparando. à primeira e segunda zona de abastecimento nem tive necessidade de parar. Os meus 2 bidons de 750ml e os bolsos do jersey cheios de barras e géis Gold Nutrition com uns cubos de marmelada à mistura tinham de ser esvaziados para tirar lastro!
 

A partir do km50, já após a 3.ª zona de abastecimento, o motor afogou! Os muitos quilómetros a fundo deixaram-me extasiado. Para a frente e para trás não via mais nenhum participante. Nada mais me restava do que pedalar sozinho sem a força anímica de outros concorrentes. Praticamente fiz os restantes quilómetros quase a arrastar-me, porém o conta-km mantinha-se nos 16/18km/h. 

A aproximação a Castelo de Vide foi duríssima para mim!. De facto, após entrarmos nas ruas históricas da Vila, seria apenas a primeira de duas passagens, que me foi devidamente lembrada por um simpático militar da GNR que regularizava o trânsito quase inexistente, ao qual cumprimentei com um determinado "Bom dia camarada!".


Na minha primeira passagem sobre a linha de meta encontrei a última assistência. O divertido José Bencaleiro, que já tinha terminado (e a mim ainda faltavam uns 15km de pura loucura) ainda intentou com um "- Fica já aí!", mas não me convenceu. Após a duríssima entrada em Castelo de Vide seguiu-se a duríssima saída. 


 Ao km 80 atingimos o ponto mais elevado da Maratona, com vista privilegiada sobre a Vila de Marvão, cujo planalto estava a escassas centenas de metros de nós. Esta última subida deu uma luta tremenda, pois a inclinação era bastante e as pernas já não obedeciam. Valia a carola que dava ordens para dar tudo o que tinha e que não tinha, pois a meta estava a apenas 10km de distância.


No regresso à zona de meta, novamente a calçada romana me esperava, mas se na primeira passagem a estudei e fiz toda montado, à segunda repeti o feito com gritos de coragem que saltavam da boca dos elementos do staff ao longo da derradeira subida. Por vezes lá aparecia uma descida, como era o caso da retratada na foto, onde aproveitávamos para ganhar fôlego para a próxima.


No final cumpri o objetivo. Realizei os 90km em menos de 6h e não fiquei último. Ali próximo à meta reparei que alguns dos meus perseguidores haviam entretanto desistido à primeira passagem pela meta e fiquei orgulhoso de não o haver feito também. 

Após terminar a prova tive o prazer de reencontrar um amigo espanhol, Julian Morujo Garcia (Grupeta 9:30), que tive em prazer de conhecer na 2.ª edição do Azores Bike Challenge e que já não via desde aí. Outros amigos portugueses tive também o prazer de rever.

O calor misturado com a brisa (quase vento) fresca que fez durante toda a manhã, deram-me este bonito bronzeado, que foi o meu troféu! kkkk 

Terminar entre os últimos tem as suas vantagens, senão vejam: fui tomar banho e não encontrei filas, tendo-me despachado com os meus vagares. Depois fui almoçar, que por sinal estava muito bom, em especial a sopa que estava divinal, onde também foi chegar, ver e comer. Resta-me dar os parabéns à Organização pela fabulástico evento e opinar para que na próxima edição entremeiem as subidas com os retões ;) Bem hajam.


01.º - 03:53:49 - Davide Marques (Nutrimania Sports Nutrition) 
02.º - 03:55:20 - Rui Carvalho (Bicicletas Santiago)
03.º - 03:56:45 - Marco Macedo (Epic Bike Store)
64.º - 05:55:55 - João Valério (Clube de BTT Zona 55) / 13.º Master 40
67.º - 06:03:10 - Último

ÁLBUNS DE FOTOS


Créditos à reportagem
Texto: João Valério
Fotos: Carina Cortes, Cláudia Barreto, Luís Iria, Renato Picado, Clube Terras do Côa, António Manso, Guilherme Ribeiro, Johnny Axe e João Valério