domingo, 18 de junho de 2017

Participação da equipa (Gerês)

Representação a cargo de:
260km - João Valério

A tradicional e anual aventura/travessia por mim organizada voltou em 2017 a realizar-se em Portugal, desta feita com o objetivo de levar o nosso pequeno grupo a conhecer algumas paisagens e trilhos no Gerês. Aproveitámos também a viagem de carro até lá para conhecermos e percorrermos na totalidade a Ecopista do Dão, mas também e para terminar fizemos a ligação entre o Gerês e Viana do Castelo "colando" diversos percursos independentes da Ecovia do Rio Lima.

Desta vez tivemos a estreia de 2 novos elementos no grupo: a Sara Lopes e o Pedro Pires. Além deles, acompanharam-nos (e também pela primeira vez) a Sofia e a Marta, que foram as motoristas de serviço das duas carrinhas utilizadas para deslocação do grupo de participantes e dos respetivos sacos. Ao contrário de outras aventuras, desta feita só precisámos de levar o mínimo e indispensável para realizar os percursos, onde os bidons e mochilas de hidratação foram suficientes.

ETAPA #1 = 51,36km
A integral Ecopista do Dão
Após um par de horas de viagem de carro chegámos ao local de partida para a nossa 1.ª etapa desta aventura - Santa Comba Dão, onde se inicia oficialmente a Ecopista do Dão.

 As nossas motoristas "abandonaram-nos" na Estação Ferroviária de Santa Comba Dão, onde desde logo vimos alguns outros ciclistas. Depois de nos equiparmos nas casas de banho públicas ali existentes, preparámos o material necessário a transportar ao longo dos cerca de 51km que nos propusemos realizar.

Desta vez a cor dominante do grupo foi o cor de laranja, do equipamento dos elementos do A.C. BTT do Fôjo (Renato Valério, Manuel Maia, Marco Lopes; Pedro Pires e Sara Lopes), ficando eu a destoar com o verde representativo do Clube de BTT Zona 55. O dia estava propício para umas boas pedaladas, sem vento nem muito calor e com o sol a brilhar lá no alto.

 
Tal como previsto, o piso não apresentava qualquer dificuldade ao nosso andamento, pois trata-se de pavimento totalmente cimentado, cuja cor altera à medida que vamos entrando nos limites de um outro concelho (azul em St.ª Comba Dão, verde em Tondela e vermelho em Viseu). Na direção que tomámos é praticamente sempre a subir até final, mas com uma percentagem de inclinação mínima que quase não nos apercebemos.

Infelizmente, ao longo do percurso encontrámos muito poucos locais passíveis de beber ou comer algo e, logo por azar, sensivelmente a meio do percurso escolhemos parar no snack bar mais rasca que alguma vez conhecemos, localizado em Parada de Gonta, cujos funcionários eram bastante antipáticos, lentos e nos serviram salgados e bolos com falta de qualidade, os quais à primeira trinca logo nos fizeram perceber que já ali estavam na montra há alguns dias.

O percurso apresentou-se sempre bastante limpo e com o piso em ótimas condições. As paisagens que ladeiam todo o percurso são belíssimas e nada monótonas.

Os edifícios das antigas estações e apeadeiros ainda se mantêm de pé e em condições aceitáveis, alguns deles reaproveitados para outras utilizações. Por vezes cruzamos rodovias onde existem barreiras perpendiculares que temos de contornar para assim abrandar o ritmo e permitir atravessar com segurança.

Ao longo de todo o percurso o nosso ritmo situou-se entre os 25 e os 35km/h, sempre em amena cavaqueira. Aqui e ali cruzámos-nos com outros ciclistas, pedestres e até skaters e circulámos em túneis e em pontes de ferro bastante originais. Por vezes encontram-se casas próximas ao percurso, outras terrenos agrícolas e/ou de pastoreio com animais simpáticos, mas também atravessamos áreas de floresta que nos proporcionam simpáticas sombras.

Chegados a Viseu após pouco mais de 2 horas de caminho e sem quaisquer avarias, já tínhamos à nossa espera as condutoras do staff. Tomámos banho nas instalações do Comando Distrital da P.S.P. de Viseu, o qual já havíamos contatado uns dias antes nesse sentido. Optámos por almoçar num simpático restaurante localizado no centro da cidade, após o qual nos fizemos à estrada, agora de carro, para cumprir o resto da viagem até ao Gerês.
Track total realizado na Ecopista do Dão


Após chegados ao Gerês, já com as reservas dos 2 bungalows feitas na Pousada da Juventude local, situada em Vilarinho das Furnas, ali bem próximo à Barragem com o mesmo nome, rapidamente nos acomodámos e organizámos para que no dia seguinte estivéssemos a postos para dar início à grande aventura.

Resumo em vídeo desta etapa.


Etapa #2 = 54,82km
Entre o Gerês e as Terras de Bouro

Acordámos cheios de  vontade de dar-mos início à nossa 1.ª etapa e aventura no Gerês. O despertador para este e os próximos dias tocava às 07h30. Depois de tomado o pequeno-almoço no refeitório da Pousada estava na hora de nos pôr-mos ao caminho. 



Tal como previsto, começámos por uma subida, mas em asfalto, para rolarmos em direção ao Sul e a Terras de Bouro. Quanto mais subíamos, mais bonita se ia tornando a paisagem, ainda mais porque a manhã estava solarenga e fresca, tudo se complementando para um excelente dia de btt.


A manhã parecia que iria ser toda ela passada a subir. Subimos, subimos e subimos até ter-mos uma vista fantástica sobre a vila do Gerês e o Rio Cávado com as suas praias fluviais. 

Como tudo o sobe tem de descer... finalmente chegámos a esse ponto, que apesar de ter sido uns bons quilómetros passou rápido demais e, subitamente já estávamos novamente a subir. 


À medida que o sol ia subindo, tal como nós, também o calor começava a apertar. Deparámos-nos aqui com uma subida de extrema inclinação, onde me vi obrigado a parar face ao elevado batimento cardíaco, vendo a mancha laranja a afastar-se de mim a pouco-e-pouco. 




Já com cerca de 3/4 da subida mais longa do dia feita, começámos a encontrar umas bem-vindas sombras e, ainda melhor, encontrámos um enorme tanque à beira do trajeto cuja água estava extremamente fria e onde mergulhámos para arrefecer o motor e recuperar o fôlego.



 A subida continuou e até atingirmos perto dos 900m de altitude, com um acumulado de subida digno de registo. Era hora de aproveitar a paisagem e tirar umas fotos antes de continuarmos.




Adiante fizemos mais uns quantos amigos, pois por estas bandas com frequência nos cruzamos com gado bovino a pastar livremente sem a supervisão humana. O terreno lá aplanou, o que nos permitiu apreciar mais convenientemente o ambiente que nos rodeava.



Aproveitámos a passagem por uma pequena e pitoresca aldeia com uma fonte de água potável junto à estrada para atestarmos os nossos bidãos e mochilas.


De regresso às subidas voltámos a encontrar mais algumas amigas vacas barrosãs deitadas junto ao trilho pachorrentamente, mas que mesmo assim não deixavam de impor respeito.



Fizemos o regresso aproveitando a milenar rota romana que em tempos idos ligava as cidades de Braga e Astorga, denominada IV Via Militar Romana, sobejamente conhecida por estas terras altas.


A dureza desta via romana é discutível, não tendo sido achado consenso entre os elementos do nosso grupo. Algumas vezes obriga-nos a desmontar, devido às enormes pedras e ausência de um trilho ciclável, outras leva-nos a passar por regatos e regos de água fresca e fluída, mas constantemente é composta de piso irregular, maioritariamente empredado a boa maneira da conhecida calçada romana.



Após mais um encontro imediato com gado barrosão, fizemos os últimos 5km de regresso à Pousada por asfalto, o único percurso viável existente. Terminámos exaustos mas felizes. Este primeiro dia no Gerês foi deveras esgotante e surpreendente, deixando-nos com uma opinião nada consensual quanto às expectativas que levávamos.

Track total realizado



Etapa #3 = 74km
Do Gerês à Rota das Sombras

A 2.ª etapa no Gerês teve início idêntico à do 1.º dia, novamente com uma subida inicial em asfalto, no entanto, desta vez virámos a Norte por um percurso que prometia ser surpreendente e fantástico.

Apenas com 5km percorridos, numa descida bastante íngreme e técnica, o Pedro Pires sofreu uma queda, que apesar de ligeira o levaria a ponderar desistir face às dores e ferimentos num tornozelo, porém com umas palavras de ânimo e os primeiros socorros dados, lá o convencemos a continuar.  


Imediatamente a seguir encontrámos mais uma contrariedade:  o trilho que era suposto existir e que me fez marcar o track por ali, só era possível apeado, pois trata-se de um percurso pedonal. Ainda tentámos outras hipóteses mas todas se mostraram inviáveis. A opção foi seguir em frente ao longo de algumas centenas de metros, onde perdemos imenso tempo até conseguirmos ligação a uma estrada asfaltada uns metros de altitude mais abaixo, onde desembocámos num miradouro sobre o Rio Cávado e a vila do Gerês. 


Até à Portela do Homem foram 500 metros de acumulado positivo em apenas 6km de asfalto a um ritmo que parecia levar os travões puxados. Pelo caminho ainda ultrapassámos um bonito cavalo que teve a amabilidade de encostar para nós, e os automóveis, passarmos.


Até chegarmos à Portela do Homem, a estrada que liga à vila do Gerês passa no coração da serra, com bastantes fontes e água a correr vinda de tudo quanto é sítio. As árvores são aos milhares e o ambiente é bastante húmido, o que faz com que o piso nos obrigue a redobrada atenção, além da constante passagem de trânsito rodoviário, pois esta é a única via possível. 


Após cruzarmos a fronteira fizemos uma pequena paragem para recuperar o fôlego e trocar opiniões sobre a maravilhosa paisagem e luxuriante floresta que acabáramos de passar. Esperava-nos uma longa descida, ainda em asfalto, antes de regressarmos finalmente à terra batida.


Já em terras de nuestros hermanos e de volta à terra batida a paisagem alterou-se drasticamente:  menos vegetação, que permite ver melhor as montanhas que nos rodeiam e consequentemente a inexistência de humidade e regatos por tudo quanto é sítio, mas apesar disso apanhámos uma brisa fresca que fez com que tolerássemos bem o sol e o calor. Inicialmente percorremos ainda cerca de 10km em subida, com algumas zonas arborizadas aqui e acolá.


Estávamos agora definitivamente no trilho que é conhecido em ambos os lados da fronteira por Rota das Sombras. Aqui a altitude permite-nos ver lá em baixo um pequeno ribeiro que desliza lentamente pelo interior do vale cavado na rocha já bastante desgastada entre as duas elevações de montanha.


Sensivelmente a meio do percurso, ainda em Espanha, aproveitámos uma queda de água e um pequeno lago formado sobre as rochas para nos divertirmos um pouco, mergulhando e atestando os bidons, pois o calor começava a apertar quando o relógio já marcava além das 12h00.





Seguiram-se alguns quilómetros de incursão no vale para descermos até Lobios junto ao leito do que lá de cima parecia um ribeiro, mas que afinal trata-se do Rio Vila Meâ (Rio Vilameá, em espanhol). Fizemos cerca de 5km a pé, pois a progressão regular em btt é simplesmente impossível, devido ao piso inconstante de rochas, por vezes ponteagudas, ainda assim, as oportunidades que nos eram dadas para pedalar foram de elevada dificuldade técnica, exigindo elevada atenção e controlo da bicicleta.

Aos elementos do grupo comuns a anteriores aventuras, o aparecimento de uma bengala num monte de pedras empilhadas fez-nos lembrar as nossas aventuras pelo Caminho de Santiago e Caminho Francês, já a dificuldade do terreno nos fez lembrar a nossa travessia da Escócia junto ao Lago Lemond (Loch Lomond).

Um pouco antes de chegarmos à povoação de Vilameá, que dá nome a este Rio, no final da nossa descida (a pé) tivemos nova surpresa ao encontrar um novo lago que, como não podia deixar de ser, aproveitámos para mais um fresquinho e divertido mergulho, após isso e já na rodovia de ligação à Portela do Homem parámos num café à beira da estrada principal em Vilameá para comer umas sandochas, antes de começarmos a longa e chata subida de 8km em asfalto de regresso a Portugal.

Novamente em Portugal e no fresquinho da "selva", fizemos o caminho de regresso, desta vez a descer, e novamente em asfalto, pois por maioria de votos decidimos alterar o percurso que nos levava de regresso à Pousada, para seguirmos em direção até à vila do Gerês, tendo como destino a Praia Fluvial de Alqueirão, para ali dar-mos um mergulho.


Depois de combinarmos o novo plano com as nossas motoristas de apoio das carrinhas de apoio, juntamos-nos a elas na praia fluvial onde demos por terminada a nossa jornada, aproveitando para fazer um pouco de praia após o que regressámos de carro já com as biclas no tejadilho e assim até aproveitámos para nos abastecermos num supermercado local, porque um pouco desiludidos com a qualidade das refeições da Pousada, decidimos que as restantes refeições seriam confecionadas por nós, em grupo, aproveitando as excelentes condições dos nossos 2 enormes bungalows.


Track total realizado


Etapa #4 = 76,80km
Do Gerês a Viana do Castelo pela Ecovia do Lima

Chegara o nosso 4.º e último dia de aventura! Hoje teríamos pela frente a ligação em btt a Viana do Castelo ao longo de quase 80km e, posteriormente, o regresso a casa de carro de 290km.

Nesta derradeira etapa só tínhamos dificuldade nos 18km iniciais. Após transpormos a Barragem de Vilarinho das Furnas seguiu-se uma longa subida em asfalto. Como a etapa tinha meta distante, as nossas motoristas ficaram de se encontrar connosco já no final, em Viana do Castelo, até estávamos por nossa responsabilidade.


Chegados à primeira povoação - Brufe, surgiu logo a primeira dificuldade. Por minha iniciativa , à saída da aldeia desenhei o track por zonas agrícolas, de forma a evitar o máximo possível asfalto, mas a ideia saí-me furada pois mesmo após conselho de uma idosa local e agricultora, teimei seguir até não mais ter escapatória, o que nos obrigou a regressar à aldeia para tomar a estrada alcatroada. Ainda assim foi fantástico, pois apesar de ter-mos perdido tempo andámos uns quantos quilómetros por trilhos magníficos.   



Não foi preciso muito tempo para voltarmos a ter de alterar o percurso! Infelizmente, novamente e por desconhecimento do terreno, desenhei o track sem ligar a curvas de nível e, no local, o trilho que era suposto existir não apareceu, ou por outra, estava repleto de mato intransponível, obrigando-nos a andar com a bicicleta às costas uns 20 min. numa encosta pejada de mato alto com inclinação acentuada e caminhos de cabras montesas. 



Um pouco chateados com a situação, alguns elementos do grupo ainda me juraram vingança, mas rapidamente tudo serenou quando regressámos aos bons trilhos, que nos permitiram o contacto com cavalos, ovelhas e vacas nos pastos, livremente como até aqui já estávamos habituados a vê-los.



Chegados às "portas" de Ponte da Barca abandonámos definitivamente os trilhos de montanha para entrarmos na Ecovia do Lima, de onde seguimos até Viana do Castelo sempre com o Rio Lima como nosso companheiro.



O bom piso e excelente manutenção do percurso não nos ofereceu qualquer dificuldade, somente o tempo que perdera-mos e o esforço gasto para sair da montanha nos havia deixado um pouco abatidos. Sem perdermos a tradição, a cada local merecedor fazíamos a nossa paragem para fotos, comer, ou simplesmente dar um mergulho.




Em Ponte de Lima parámos para comer umas sandes e beber uns líquidos, por forma a dar-nos a energia suficiente para chegarmos até ao mar.

A cerca de 30km de Viana do Castelo começámos a sentir a brisa marítima que nos acompanhou até lá, sempre a ritmo elevado e sem problemas físicos nem técnicos, o que felizmente nunca tivemos. A foto do dia foi junto do ex-Navio Hospital Gil Eanes, que hoje em dia funciona como Pousada, onde já tive o privilégio de pernoitar aquando a minha deslocação à 2.ª Maratona Cidade de Viana do Castelo, no ido ano de 2009.

Antes de nos fazermos ao caminho para casa, após a simpática disponibilização dos balneários por parte e nas instalações do Comando Distrital da PSP de Viana do Castelo, rumámos até próximo da Feira Medieval que ali se estava a realizar e entrámos num dos restaurantes locais para fazer uma refeição sem nome definido, pois serviu-nos de almoço, lanche e jantar, simultaneamente. Resta-me terminar esta reportagem congratulando-me por, mais uma vez, ter corrido tudo pelo melhor, com excelente camaradagem entre todo o grupo, em que tivemos oportunidade de conhecer mais algumas regiões com a ajuda das nossas bicicletas a ritmos bem agradáveis.

Track realizado


Resumo vídeo das 3 últimas etapas




Créditos à reportagem
Texto: João Valério
Fotos: João Valério, Manuel Maia, Renato Valério